A culpa é do latim

22-Nov-2006. Noticiário RTP1. Olhando para outras línguas, não nos podemos queixar muito de que o português escrito seja difícil para quem o fala. Com algumas regras básicas bem aprendidas e apreendidas, consegue-se deduzir como escrever qualquer palavra que se ouça pela primeira vez. Já o inglês, por exemplo, é terrível: ontem ouvi aprendi que gauge (mostrador) rima com cage. Quem é que, ouvindo "gage", iria escrever "gauge"? Ou então, o caso do plural de woman (mulher): depois de ouvido algo que soa a "uímin", quem é que iria adivinhar que se escreve "women"?

A explicação para o facto de ser fácil escrever em português mas não em inglês tem a ver com a evolução da língua e com a fixação da forma escrita - pelo que li, o inglês fixou a forma escrita muito mais cedo que o português, e como a língua falada evolui constantemente, o inglês falado diverge cada vez mais do escrito. O português escrito tem vindo a ser actualizado por decreto-lei e assim se tem mantido mais ou menos em paralelo com a forma falada.

E no entanto, as coisas podiam ser ainda mais fáceis, não fosse o respeito pela etimologia. Entrando finalmente no erro deste cromo, quem escreveu "pretenções" [sic] não fazia tenção de errar, precisamente porque devia pensar que onde há tenção, há "pretenção"... Mas não, a verdade é que na nossa língua há tenção, mas também há tensão e ainda há pretensão, e cada uma destas três palavras tem raízes etimológicas distintas no latim: tenção/tentione, tensão/tensione, pretensão/praetensu. Bem pode o estagiário da RTP dizer que a culpa pelo erro que deu é do latim...