Paciência infinita

06-Abr-2007. www.cp.pt. Quando se deve flexionar um verbo no modo infinitivo? É uma área da gramática com regras complicadas - e ainda há pouco, naquele Campeonato Nacional de Língua Portuguesa, foi responsável por uma das muitas palhaçadas que por lá se passaram. Eu confesso que sigo uma regra simples, mas não totalmente correcta do ponto de vista gramatical: se ficar bem o pronome pessoal junto da forma verbal, então flexiono-a, caso contrário, não. Por exemplo: "Obriguei-os a estudar" em vez de "Obriguei-os a [eles] estudarem". Por exemplo: "[Eles] Lavaram o carro sem [eles] cobrarem mais por isso" em vez de "Lavaram o carro sem cobrar mais por isso". Por exemplo: "Vem [tu] descobrir Portugal sem [tu] levares a cama às costas" em vez da maneira como está escrita neste cromo.

Queixar-se de "descriminação" [sic]?

31-Mar-2007. Notícia em www.expresso.pt, assinada por Pedro Chaveca. Se eu fosse um "(i)migrante descriminado", ficaria todo contente, pois isso era uma amnistia. Já se eu fosse discriminado, aí é que teria razões para me queixar.

Grandes momentos do marketing nacional

28-Mar-2007. Tarifário "Extra Fins de Semana [sic, sem traços-de-união]", da Optimus, operadora da Sonae e da France Telecom. Eu compreendo o que eles querem dizer, mas também compreendo que querem fazer de nós parvos, senão burros. Eles dizem "passa para cá 8 euros, e depois falas o que quiseres ao fim-de-semana sem pagares mais por isso, ou seja, falas grátis". Mas se fosse mesmo assim, a Cabovisão podia dizer "passa para cá 22 euros e depois vês a televisão que quiseres durante um mês sem pagares mais por isso, ou seja, vês televisão grátis". Ou o BES a dizer "passa para cá 1000 euros por mês durante toda a tua vida e depois ficas com uma casa só tua sem pagares mais por isso, ou seja, ficas com a casa grátis". Só resulta num país atrasado e sem fiscalização de publicidade, e é por isso que é genial.

"Áudiolivro" [sic]

20-Mar-2007. "Áudiolivro" [sic] As Rosas de Atacama. Se esta editora, de que piedosamente lhe esqueci o nome, diz que quer publicar apenas audiolivros, a primeira coisa que deve aprender é a escrever essa palavra.

O ouro emigrou para Espanha

18-Mar-2007. Loja Oro Vivo, no centro comercial Forum [sic] Coimbra. A cadeia de lojas chamava-se Ouro Vivo e é verdade que era gerida em Portugal a partir de Espanha. Também é verdade que esta cadeia europeia dava prejuízo. Será que foi por contenção de custos que alteraram o nome às lojas em Portugal, para assim pouparem uma letra?

Quanto vale este conde?

13-Mar-2007. Agência do banco espanhol Santander Totta na Avenida "Conde Valbom" [sic], Lisboa. É curioso como, com expressões feitas, nos esquecemos do que elas significam. À custa de tanto dizerem "Conde Redondo" e "Conde Valbom", já os lisboetas esqueceram que Redondo e Valbom são terras, sedes de condados, e não meros adjectivos. Portanto, tal como o outro conde não era redondo mas era de Redondo, também este é Conde de Valbom.

"Cosmética - Bijuteria" [sic]

06-Mar-2007. Placa publicitária na Amora, Seixal, enviada por amigo. Uma gralha numa palavra e um erro noutra, que é "bijutaria" que deve ser.

Bolo de arroz?

24-Fev-2004. Bolo de arroz do Pingo Doce das Paivas, Amora, Seixal, enviado por um amigo. Já passaram três anos, pelo que esperamos que os pasteleiros do supermercado já tenham aprendido a fazer bolos de arroz com... arroz (ou farinha de arroz).

"Dúnna's" [sic]

14-Fev-2007. Bar Dúnna's, enviado por um amigo, a quem dou desde já a palavra:
«Eu sei que as marcas comerciais têm liberdade para criar as maiores bacoradas linguísticas. Mas o dono deste bar nas "dúnna's" [sic] da Fonte da Telha exagerou um bocadinho, não? Ao menos que não lhe aconteça o mesmo que aos seus colegas mais a norte, na Caparica, e o mar não lhe leve a barraquinha, pois não desejo mal a ninguém. Mas se uma ventania lhe arrancasse a placa com aquele nome ridículo, não se perdia nada.»

"Desfolhar" [sic] uma agenda

20-Mar-2007. www.casino-estoril.pt. Desfolhar, segundo a Priberam, é, entre outras acepções, tirar as folhas. "Tire as folhas à agenda"?! Não parece fazer muito sentido. Será que queriam dizer "folheie a agenda", no sentido de voltar as folhas, consultar?

Refrigerante "actrativo" [sic]

16-Mar-2007. Email promocional recebido das Pedras Salgadas, marca da Unicer. Por alguma razão estas "águas com gás com sabor", como a Unicer lhes chama, são na realidade refrigerantes e a lei obriga que seja essa a caracterização nos rótulos das embalagens. Infelizmente, parece que a lei se esqueceu da caracterização nos emails. Por isso, não me venham com a "actratividade [sic] da inovação presente no produto", porque isto não passa de sumóis ou coca-colas, apenas incolores.

Grandes momentos do marketing nacional

14-Mar-2007. Publicidade online ao cartão de crédito Unibanco Oxygen. Continua a mentira descarada deste anúncio, e não há nada nem ninguém que acabe com ela. Vai ser a terceira vez, o que dá uma média de uma vez por ano, que vou falar sobre esta mentira. Da última vez, em 17-Jun-2006, publiquei um cromo com o título "Mentirosos", sobre este mesmo anúncio. Como esse cromo não está disponível, repito aqui o que escrevi então, e não preciso de acrescentar mais nada:

«
Publicidade do cartão de crédito Unibanco Oxygen, da Unicre, uma sociedade-cartel dos bancos nacionais. Trata-se de publicidade enganosa, que usa uma chico-espertice matemática para enganar o incauto. Um ano depois, continua a mentira. O IC não devia estar a olhar para esta publicidade enganosa? 'Receba 3 euros por cada 100 euros' é uma expressão com uma interpretação clara e inequívoca. EU GASTO 100 EUROS E O CARTãO DEVOLVE-ME 3. Claro e inequívoco, certo? Alguém que ache que esta expressão não tem uma interpretação clara e inequívoca, por favor diga-mo, que é ave rara.

Pois então, se estamos em consenso quanto à clareza e inequivocação, passo a dirigir-me aos chico-espertos por detrás desta publicidade porque para eles a interpretação clara e inequívoca NÃO É BEM ASSIM... Mentirosos, dizem em letras grandes 'receba 3 euros por cada 100 euros' e só muito depois explicam que afinal é 3% da média mensal de cada trimestre (hã?, não percebi, ninguém percebeu, e por isso é que vocês têm de explicar a seguir com um exemplo). Mentirosos!, se eu fosse atrás do vosso cartão, garanto-vos que vos exigiria os 3 euros por cada 100. A língua serve para comunicar e as palavras usadas têm um significado que não pode ser deturpado a vosso bel-prazer. Porque é que não dizem em letras ainda maiores 'receba 12 euros por cada 100 euros'? Ia dar ao mesmo segundo a vossa chico-espertice mas tinha muito maior efeito. Ou será que aí é que levantavam a lebre quanto à mentira e então é que era o escândalo total? Mas façam-no, atrevam-se já que se sentem tão impunes e sã
o tão chico-espertos. Vá lá, não se fiquem por 3%, 'dêem' 12% e a seguir expliquem em letra pequenina que são 12% da média mensal de cada ano. Ou seja, mintam como mentirem, o que vocês dão é sempre 1% (e só 1%) das compras feitas com o cartão. Não são 3%, não são 12%, não são o raio-que-vos-parta, com esta chico-espertice vocês dão sempre e apenas 1%, e é claro que isso não tem nada a ver com 'receba 3 euros por cada 100 euros'.
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Parolada à espanhola

13-Mar-2007. Máquina de venda de jornais e revistas no Metro de Lisboa, propriedade de uma tal Kland24. Estas são as "instruções do uso" [sic]: "Introduza as moneas" e "Retire o producto e o câmbio". Se quiser reclamar: "TFNO. 913.26.08.62".

Cantar de galo

12-MAr-2007. www.gallo.pt, novo sítio do Azeite Gallo, da multinacional Unilever. Bem pode esta marca posicionar-se como genuinamente portuguesa, que a verdade é que em nenhum lado nem em nenhuma variedade afirma que usa apenas azeite português. Pois é. E bem pode esta marca posicionar-se como genuinamente portuguesa, que depois vai-se ao seu novo sítio e aparece em lugar nobre a expressão inglesa "best view". Pois é.

Porquê, mas porquê?

11-Mar-2007. Livro Por que somos de cores diferentes?, da espanhola Carmen Gil, editora Campo das Letras. Porquê, mas porquê? O título deste livro contém um erro crasso, muito crasso. E é para crianças. Se fosse uma edição brasileira, estaria tudo bem, mas trata-se de uma edição portuguesa, traduzida por Ângela Barroqueiro, e portanto sem qualquer desculpa.

Mais uma vez, a explicação: nas interrogações, só o Brasil usa "por que"; em Portugal, usamos o advérbio porque/porquê. Quanto à expressão "por que", só se pode usar em Portugal quando é substituível por "pelo qual" ou similar.

Concurso cancelado

09-Abr-2007. Infelizmente, devido ao desaparecimento do cartaz que se pretendia fotografar, foi cancelado o nosso I Concurso de Fotografia. Que banhada, peço desculpa. Esperemos agora que o cartaz, que dizia "Vêem [sic] aí os campeões de ténis", da responsabilidade de João Lagos, tenha sido retirado para o erro ser corrigido, e não porque não tivesse licença da Câmara para ser afixado!

Os produtos gostam?

17-Mar-2007. Jornal Sol. As últimas páginas do suplemento de economia desta edição do Sol foram um suplício, tantos os erros que ali se concentraram. Escolhi este, apesar de não ser original, mas porque estava em letras grandes. A ver: segundo a jornalista Eduarda Carvalho, os produtos gostam e há um que se destaca e gosta mais. Gosta mais de quê? E como pode um ser inanimado gostar, ter sentimentos?

A não ser que... a não ser que falte ali uma palavrinha, uma preposição, que altera completamente o sentido à pergunta: "qual é o produto de que [você] mais gosta?"

Ortografia alternativa

09-Mar-2007. www.cds.pt. Quantos acentos há em "órgãos" (grafia correcta)? Resposta: um (o outro é um sinal de nasalação). Desde que saibamos que o til não é um acento, então a regra de que as palavras não podem ter mais do que um acento continua a ser respeitada quando escrevemos órgão, tal como quando escrevemos órfão ou orégão. Escrever "orgãos" [sic], por medo dessa regra, está errado.

"Aprovei-te" [sic]

09-Mar-2007. Cartaz na montra de uma loja Gigashopping, Lisboa. Há uma canção de 1992, interpretada pela Dina, que tem como refrão: "Peguei, trinquei e meti-te na cesta, [...] Provei e perdi o juízo". Até ganhou o festival da canção e foi à Eurovisão, onde ninguém deu por elas (pela canção e pela Dina, pequenina). Na letra da canção bem podia caber a forma verbal "aprovei-te", que significa "foste aprovado por mim", e que não tem evidentemente nada a ver com a homófona "aproveite".

I Concurso de Fotografia do Obsecado [sic]

04-Abr-2007. Por sugestão e com o alto patrocínio do meu amigo Carlos Medina Ribeiro, do Sorumbático, a primeira pessoa a enviar-me por email a foto de um cartaz junto ao túnel da Av. João XXI, em Lisboa, com um erro de português daqueles que se VÊEM bem, receberá directamente do patrocinador um livro de Camilo ou Eça. As regras do concurso são três:
1. O vencedor é o primeiro a enviar uma foto com o erro legível, acompanhada da morada para envio do prémio.
2. O concurso terminará quando a fotografia for divulgada.
3. Boa sorte!

"Metereologia" [sic]

07-Mar-2007. Telefone PTAdvanced, fabricado pela coreana LG, creio que traduzido pela Novabase, vendido pela PT. Este telefone é tão "advanced" que já escreve "metereologia" [sic] antes de tempo.

Loja chinesa

07-Mar-2007. Loja chinesa, Lisboa. "Materia de escritorio" [sic], "utencilos de cozinha" [sic]. Catita!

Erro afins

11-Mar-2007. Aviso em máquina de venda de tabaco. Dois erros na última frase:
1. "pede para que" em vez de "pede que";
2. "afim de" (que significa "parecido com") em vez de "a fim de" (locução prepositiva que significa "para").

Há medida da mentira

01-Abr-2007. Jornal de Notícias, acabado de receber de um amigo. Porque hoje é dia das mentiras, nesta notícia não à qualquer erro.