Venha a nós a vossa usucapião

20-Out-2006. Jornal 24 Horas, de Joaquim Oliveira. Na I série desta colecção, o termo "usucapião" (e a sua variante "uso capião") era o campeão das pesquisas no Google que iam lá ter. Por isso, também tenho que ter nesta nova série um cromo sobre a usucapião em cujo texto repita muitas vezes a palavra usucapião, não explicando o que é a usucapião, mas apenas relembrando que a usucapião é uma palavra feminina, e que se a usucapião não parece nada feminina é porque vem directamente do latim e nunca foi "masculinizada". Pronto, já estou contente com o número de vezes que escrevi usucapião. Agora, que seja um advogado, com foto e tudo, a escrever da usucapião no masculino, é que não me deixa nada contente.

"Quaisqueres" [sic]

18-Out-2006. Regras de concurso da Procter & Gamble (Tide, Sunny Delight, Gillette). Atenção às minhas regras também: "O Obsecado [sic] fica autorizado a usar os erros da P&G para quaisqueres [sic] efeitos, incluindo actividades publicitárias e de relações públicas. O direito de utilização dos erros pelo Obsecado [sic] não fica sujeito a qualquer contraprestação em favor da errante. A decisão do Obsecado [sic] é irrecorrível. Obrigadinho e, prà próxima, mais cuidado!"

Minipreço, mini-preço, "mini preço" [sic]

15-Out-2006. Mupi a anunciar o Minipreço, uma cadeia de supermercados propriedade da francesa Carrefour. Parece que "mini" ainda não é formalmente palavra, apenas prefixo. Por isso é que aqui há erro: não se pode escrever "mini" isoladamente - tem de ser "minipreço" ou "mini-preço", que qualquer das duas está certa.

Cúria, incúria

13-Out-2006. tek.sapo.pt. Se alguém me confirmar que a Curia, onde há umas famosas termas (propriedade dos Espírito Santo), também se pode pronunciar Cúria, retiro o cromo. Por mim, nunca vi assim escrito.

Mais de Espanha

12-Out-2006. Sítio da Junta de "Castilla y León", enviado por um amigo. Nada a dizer quanto à qualidade da tradução. Obrigado aos espanhóis por mais um cromo magnífico.

PS Já não podemos dizer Castela e Leão?

Boa "viajem" [sic]

10-Out-2006. www.terminala.pt. Espanhóis, claro, vêm de "viaje" a Portugal e pensam que basta dar dois amendoins a um macaco para que lhes traduza a página. Que o barato lhes saia caro.

Leão não sabe ler

06-Out-2006. Placa afixada à entrada do stand automóvel Auto República, propriedade da Santogal, propriedade dos Espírito Santo. Suponho que alguém se esqueceu de trocar aquela frase provisória pela morada real do stand, ou então não... é que um mês depois, a coisa continuava na mesma.

7500 crepes chineses

06-Out-2006. Carro (presumo) à venda (presumo) pelo valor de 7500 (talvez) crepes chineses (presumo), visto na Avenida da República, Lisboa (se bem me lembro). Eu vejo cada coisa... mas só para que não pensem que isto até é possível, além de ser proibido vender carros na via pública, a lei que determina que toda a publicidade seja redigida em português é o Decreto-Lei 236/86, de 19 de Agosto, artigos 1.º e 2.º. E por falar em publicidade não traduzida, ai tanto material para um novo blogue que eu teria. Tentação, tentação...

Eu vi outra coisa

02-Out-2006. Anúncio online ao jornal Blitz, da Impresa de Balsemão. Antes de vermos o vídeo "músical" [sic], temos infelizmente de ver o erro.

E se nos passássemos com este cromo?

26-Set-2006. Cartaz da marca de especiarias Gyma, no hipermercado Jumbo, Maia; cromo enviado por uma amiga. Parece inacreditável mas eu confio nesta amiga. No entanto, no meu julgamento, quem escreve um cartaz com "passásse-mos" tem menos culpa do que quem o aceita e expõe. Se eu acredito que o Jumbo exige dos seus fornecedores produtos em boas condições, porque é que não há-de exigir o mesmo dos rótulos e materiais promocionais? A não ser que não se importe de vender produtos estragados e de exibir materiais com erros graves...

Nota ainda para o ponto de exclamação a terminar uma frase claramente interrogativa.

Regressem às aulas!

26-Set-2006. Hipermercado Jumbo, Alfragide. Mais um ano, mais um "regresso ás [sic] aulas".

Profissionais à maneira!

25-Set-2006. Email da empresa francesa Pixmania-Pro, destinado a profissionais "errantes" ou "nômades" [sic]. Percebe-se a ideia, e "errante" até nem iria mal se se estivessem a referir a profissionais que erram, deambulam ou vagueiam, o que não é nenhum elogio, antes pelo contrário. Como é que eu diria, então? Lembrando-nos do "Caixeiro Viajante" do teatro, talvez "profissionais viajantes"... O problema é que o Google regista 13 "profissionais viajantes", mas nenhum deles em site:pt. A seguir testei "profissionais em movimento", e para estes já o Google apresenta 682 instâncias, das quais 18 em site:pt. Haverá alternativa ainda melhor, para ensinar aos franceses?

Os erros que eles inventam

12-Out-2006. Campanha de publicidade da Portugal Telecom, pela agência Partners (portuguesa, como se vê pelo nome...). "Épa", escrevem eles, mas no anúncio de televisão dizem "é pá" ou "eh pá". Como isto é uma interjeição, que se deve escrever como se diz, então o anúncio está obviamente mal escrito.

Entretanto, e porque este cromo já é velho de um mês, o anúncio foi corrigido para "epá", ou seja, o acento agora está na sílaba correcta, a sílaba tónica. Mas será que "epá" é correcto? Até admito que seja por se tratar de uma transcrição fonética e as interjeições não estarem obrigadas a grandes etimologias. Mas não tenho dúvida de que escreveram "epá" por influência da grafia da marca de gelado da Olá (que, por ser uma marca, pode ter uma grafia de fantasia). Como é que o provo? Se quisessem dizer "ó pá" (uma interjeição-irmã) não iam de certeza escrever "opá". Ou, se tivessem dito "é lá", também não iam escrever "elá".

Enfim, é como diz o anúncio: inventam tudo!

"Alonge" [sic], adiante!

23-Set-2006. Stand na feira Viver Saúde, FIL, Lisboa. "Alonge" [sic] o seu cabelo com estas "extensiones" e "pásate de largo" (ou seja, esqueça)... A minha teoria é que este cartaz foi escrito pelos espanhóis e dado à sua representante em Portugal. Para esquecer mesmo.

Ai deve, deve

22-Set-2006. Noticiário, a avaliar pela estética pasta-de-dentes, da SIC. "Portugal deve de [sic] receber indemnização". E a nós, quem nos indemniza por sermos vítimas destes erros?

Aviso só para alemães

23-Jun-2006. Máquina de venda automática da Mars, empresa familiar americana, no aeroporto de Lisboa; cromo enviado por um amigo. Aparentemente, os alemães não podem ver máquinas de venda automática em aeroportos, que se atiram logo a elas com a intenção de as levarem para casa. Ou então, isto é um aviso para os alemães não se chegarem junto das máquinas senão são elas que se atiram para cima dos alemães e tentam esmagá-los.

Se calhar estou a generalizar demasiado e isto só se passa com máquinas da Mars e só no aeroporto de Lisboa. Em todo o caso, se algum alemão estiver a ler isto, é melhor lembrar-se de que mais vale prevenir do que remediar, e passar ao lado desta máquina quando voar até Lisboa.

Erros "selecionados" [sic]

20-Set-2006. Loja Makro, em Alfragide. Reabriu esta loja, totalmente nova por dentro, tanto em equipamentos como em erros. Aqui está um.

"Requesitos [sic] legais"

20-Set-2006. Sumo de tomate exclusivo dos supermercados Lidl. Para uma embalagem que vem em 35 línguas mais ou menos, ter apenas um erro, em "requesitos" [sic], é obra, mas não é de saudar. O que é de saudar é que o sumo tenha sido feito de forma "cuidada e esmerada" com "tomates do campo amadurecidos ao sol". Quem já passou por Almeirim e viu os camiões de caixa aberta carregados de tomates, estacionados durante horas, até dias, à espera de vez para descarregarem na fábrica da Compal, sabe bem o que significa "amadurecidos ao sol"!

Má academia

17-Set-2006. La Piara para crianças. Uma marca espanhola de "untables" (pastas de fígado e afins), pertencente à Nutrexpa (Cola-Cao, Phoskitos e afins). Parece que esta empresa só vende coisas que não fazem nada bem à saúde (ou são à base de açúcar ou são à base de gordura), mas mesmo assim não deixa de querer vender directamente às inocentes das crianças, com esta página onde ainda por cima repete os erros que costuma dar noutras marcas e que já tenho coleccionado.

Como os espanhóis não conhecem a cedilha, não a escrevem nem que esteja em "promocão" [sic], embora neste caso fique surpreendido por terem desenhado o til, que é o outro sinal do português que não existe no espanhol. E, evidententemente, não se diz "o desporto que mais gostas", mas sim "o desporto DE que mais gostas".

PS A cacofonia do título é intencional.

É do Porto!

15-Set-2006. www.visualwork.pt, uma agência que só pode ser do Porto, carago!, porque escreveram "reformulamos" em vez de "reformulámos". Que pronunciem as duas palavras por igual, não tenho nada contra, mas por alguma razão existe o acento: é para distinguir o tempo presente do tempo passado, e não pode ser esquecido, nem por portenhos!

Guerra das Estrelas Erradas

09-Nov-2006. Exposição "Star Wars", no Museu da Electricidade, em Lisboa. Ainda me lembro de quando estreou, em 1977. O título do filme era "A Guerra das Estrelas" e lá fui a acompanhar o meu filho. Que bela sesta tive nesse dia na poltrona do Monumental (ou seria do Império?).

Avançamos quase 30 anos e outra vez lá fui, agora a acompanhar o meu neto, à exposição sobre o filme (e suas continuações), cujo título entretanto perdeu a tradução para português. Sinal dos tempos e sinal de que os netos estão mais cultos do que os avós. Mais cultos, mais globalizados, mais submetidos ao marketing e ao consumismo, de que aliás esta exposição, só pelo facto de existir, é exemplo perfeito.

Mas entremos adentro que já se faz tarde e o miúdo está impaciente. Desta vez não pude repetir a sesta, que houve muito que andar. Sobre a exposição, só tenho a dizer que gostei imenso da velha Central Tejo e de olhar para as enormes fornalhas/caldeiras, da altura do edifício. Muito bem recuperada e mantida, um bom exemplar de arqueologia industrial. Mas não consegui deixar de olhar para os trapos e os bonecos, claro, e sobretudo para as (muito poucas) fichas informativas que os acompanhavam. Azar dos organizadores, foram logo pôr a tradução (também para espanhol, que parece que a exposição não vai passar por Espanha) ao lado do original inglês. Azar o deles, sorte a minha!

E que sorte foi! Que sorte poder ver como se pode ser tão amador, tão miserável, tão pouco profissional a fazer traduções. Como se qualquer um que saiba dizer "camóne" fique automaticamente habilitado para fazer traduções. Vamos aos exemplos, em que os três primeiros pertencem ao cromo ilustrativo (se não quiser ler tudo, leia pelo menos os pontos 2 e 7):

1. "Os TB-TT pertencem aos maiores veículos que aparecem na saga", como tradução de "AT-AT walkers are major vehicles that appear in the saga". É como dizer "os portugueses pertencem aos maiores habitantes de Portugal" em vez de "os portugueses são dos principais habitantes de Portugal"!

2. Esta é de bradar e ainda está visível neste cromo: "os TB-TT avançam usando apenas um pé de cada vez. Para caminhar de uma forma estável requer pelo menos 1,5 metros". No original: "...requires at least 5 feet". O tradutor confundiu pés (um apêndice do corpo) com pés (medida de comprimento, 1 pé=33 cm)! É como dizer "para não ser perneta requer pelo menos 66 cm"!

3. Erro de concordância: "Um tamanho tão grande, com a maioria da sua massa [...], é propícia [...]".

4. Han Solo foi congelado e mantido vivo num material fictício, chamado em inglês "carbonite" e, na tradução da exposição, "carboneto". Infelizmente, carboneto em português significa outra coisa bem real, pelo que "carbonite" seria melhor tradução, tal como fizeram no espanhol para "carbonita".

5. Uma das fichas informativas intitula-se no original "Tatooine and its twin suns". Tradução: "Tatooine e os seus twins [sic] suns", pois claro, que isto de ir consultar uma enciclopédia para ver o que são "twin suns" dá muito trabalho!

6. Por toda a exposição, a palavra inglesa "droid" é traduzida invariavelmente por "andróide". Um andróide é de facto um "droid" mas, azar para o tradutor, é um "droid" com forma humana (grego andros:homem). Se o "droid" não tiver forma humana, não pode ser chamado de andróide.

7. "Dexter Jettster, marioneta virtual: as suas pernas estão programadas para esticarem quando os pés estão 'encolhidos'". Hã? O original esclarece: "his legs are programmed to extend when his feet are 'pulled'". Assim sim: as pernas esticam quando os pés SÃO PUXADOS, não quando "estão encolhidos", evidentemente.

8. E termino, porque isto não foi um levantamento exaustivo, com um erro clássico: "continuam a haver obstáculos"...

Com que telenovela é que o tradutor estava distraído quando fez este trabalho? Ainda para mais, no final da exposição assistimos a um documentário em filme, desta vez legendado por um tradutor profissional, que faz saltar à vista todo o amadorismo que tivemos de suportar até ali. Só um exemplo, de memória: enquanto o amador trata toda a bonecada por "marionetas", o profissional trata-a por "títeres", um termo mais preciso que o amador nunca deve ter ouvido.

Claro que para mim continua a ser tudo bonecada e, graças ao tradutor amador, também uma palhaçada. 10 euros por cabeça para ler esta desgraça? Às tantas até valeu a pena, porque deu para um cromo assim deste tamanho.

Especial Cofina 3/3

... E finalmente, mais um "encremento" [sic] para o número de cromos desta colecção, cortesia da Cofina, e lido no Correio da Manhã de 03-Out-2006.

Especial Cofina 2/3

Segunda pérola da Cofina: um erro para que mãe e filha "viagem" [sic] para o Brasil, lido no Correio da Manhã em 01-Out-2006...

Especial Cofina 1/3

Nada melhor para começar a II Série da minha colecção do que despejar de uma só vez três pérolas vindas da Cofina. Esta é a primeira, um guia "práctico" [sic] lido em www.negocios.pt em 13-Set-2006...